domingo, 29 de agosto de 2010

Você que está longe

Que saudade que eu tenho de poder te ver todos os dias.
Que saudade que eu tenho de a qualquer hora estar por perto.

Nunca pensei que eu sentiria essa distância, do jeito que eu sinto agora.

Você que faz parte da minha vida e que em momento nenhum vou permitir que deixe de estar presente mesmo que longe.

É em você que eu penso quando estou feliz, quando estou triste, esperançosa, com medo, simplesmente querendo ouvir uma palavra amiga, um carinho ou qualquer coisa assim.

Você é mais que uma amiga, é a irmã que está longe.

Sinto sua falta, mas que qualquer outra coisa.

Te amo!


*Carta enviada pela Vanessa Landucci

domingo, 22 de agosto de 2010

DOR

(Carta para quem sente o que eu senti um dia)

Sentir um vazio por dentro é uma sensação ruim, é como se alguém depositasse uma coisa boa dentro de você e depois arrancasse com as próprias mãos, sem anestesia, causando assim dores que só quem sente sabe reconhecer. Muitos dizem que passar por dor, sofrimento é um processo para a aprendizagem, pois você precisa passar por isso, o que eu não entendo é, passamos por isso, mas quais ferramentas usar para que a dor diminua? Não sei responder ao certo, pois, neste momento, estou buscando respostas para apaziguar minha dor... uma dor que me faz sair de onde estou, uma dor que me leva em um lugar vazio, uma dor que me faz chorar.

Estou analisando tudo o que posso aprender com isso e juro que estou tentando enxergar o lado bom, mas o que sinto é ruim e isso piora quase tudo. Falar de sensações é meio constrangedor, ninguém sente o mesmo sentimento na mesma intensidade, eu achei que não iria sentir o que eu sinto, mas sinto e como sinto. É uma mistura que me pega desprevenida, é aquela dor na boca do estômago, choro preso? Talvez... mas acho que é um vazio, só que ouvi dizer que ninguém completa ninguém, que as pessoas aparecem em nossa vida trazendo uma cor, mas será que é só uma cor que elas trazem mesmo? E quando a pessoa faz você sentir o que antes nunca sentiu? E quando essa mesma pessoa te leva aos delírios sem ao menos saber? E quando essa pessoa não sai da sua cabeça? Ainda acha que as pessoas aparecem somente para trazer uma cor? Enfim... pode até ser, mas sempre alguém aparece para pintar o que estava em branco e, quando essa pessoa some, parece que a cor vai junto e o nosso defeito é deixar isso acontecer, por quê? Veja bem, se alguém aparece na sua vida de uma hora pra outra é pra te mostrar algo, é pra te deixar algo, ou até mesmo para te arrancar algo, você deve aceitar o que de bom ela te trouxe, e se ela foi embora, fique com a “coisa boa”, não deixe que ela leve a sua auto-estima, os seus sonhos, não deixe que ela leve a sua vida.

Muitos não entendem o real sentido da palavra dor, mas para entender basta sentir, pois é sentindo que você percebe o quão a pessoa significa em sua vida. Às vezes pode demorar muito para você sentir uma dor, mas às vezes pode ser mais rápido do que você esperava. Quando a dor chega, ela traz consigo a tristeza, a solidão, a angústia, o sofrimento, a decepção. Perceba quantas coisas ruins a dor carrega. Portanto, ao sentir dor, não é só dor que você sente, é tudo junto, é tudo de uma intensidade forte, por isso que dor é dor. Dor de dente dói somente os dentes, dor da perda, dói o coração, a cabeça, a alma... e o único alívio é ter aquela pessoa da forma que você deseja, ou esperar, esperar e esperar. Todos levarão em suas bagagens uma história, às vezes linda, trágica ou até mesmo triste, mas cada um tem consigo algo que considera “valioso”... tranque lá no fundo do seu inconsciente aquilo que de alguma maneira te machucou, porque esquecer é impossível, você não consegue esquecer, mas consegue amenizar.

Por isso que eu acredito que nós somos os causadores da maior e intensa dor, pois deixamos crescer isso dentro do nosso interior, e pra quê? Para chegar em casa, deitar no colchão e chorar? Para pensar que poderia ter dado certo? Para voltar aquele fato e tentar fazer diferente? Nada mais adianta quando uma coisa já aconteceu, devemos respeitar nossos fracassos e aceitá-los, ou melhor, entendê-los. Viver de passado é ser fraco em uma correnteza, você quer melhoras? Então melhore, você é capaz, sabe disso mais do que ninguém. Neste momento você está triste, calado, impaciente, ansioso, mas amanhã você pode e deve ficar muito melhor. Parece fácil seguir tudo isso que está escrito, mas sei o quanto é difícil, pois por mais que você fuja sempre voltará lá, não tem jeito, sempre olhará para trás. Só que um esforço é válido e o que queremos alcançamos, basta ter fé.

Eu escrevo essas linhas para tirar um pouco do que eu sinto dentro de mim, e se for como dizem, eu preciso sentir isso para amadurecer, para não ser tão inocente em devidos momentos. A dor não vai diminuir escrevendo, mais vai sendo analisada com outros olhos, até sumir... e sei que some, porque não guardo aquilo que não me faz bem. E você que lê isso agora, já olhou para seu interior hoje? Já se perguntou quais sentimentos está carregando com você neste momento? Já sabe os motivos pelos quais sente dor? Medo? Raiva? Se sabe, por que ainda sente isso? Se olhe por dentro, permita-se sentir todos os sentimentos, no final descobrirá que cada um é um ponto de luz que cresce dentro de você e, na verdade, nenhum é tão ruim assim, o ruim somos nós que deixamos crescer coisas que talvez nem existam. Agora, termino de falar sobre isso, pois a vida continua e os sonhos continuam, também. E eu... Ah, eu não vou ficar estacionada sendo que meu carro é potente e eu posso ir muito mais além do que eu posso imaginar...

... Deixo aqui a minha dor e levo daqui a minha fé...

Juliana Mingorancia
(www.mingorancia.blogspot.com)

domingo, 15 de agosto de 2010

Caro amigo,

Sim passaram-se muitos anos e pouca coisa mudou na galáxia que conhecemos.
As pessoas continuam sim porcas, imundas... Mas não só os hábitos, agora os pensamentos também são assim...
O amor, não existe. Apenas um desejo carnal que nunca acaba. As mulheres não conseguiram ainda a igualdade tão sonhada, desejada e merecida... Conseguiram apenas mais dor e sofrimento...
Mas nem tudo é tristeza, meu caro amigo...
As crianças ainda carregam o olhar esperançoso e a beleza do sorriso.
As meninas ainda se apaixonam e sonham com finais felizes.
Os idosos, ainda contam histórias de um passado muito distante e também saudoso... Feliz que eles tanto gostavam.
A lua ainda brilha como nunca.
As estrelas... Sempre iluminam o céu...
E as rosas ainda têm o mesmo perfume... A mesma beleza... e trazem o sorriso aos rostos mais tristes que possam existir...

Pois é meu amigo...

Talvez um dia isso mude, talvez não...

Mas ainda assim, não troco minha vida por outra vida qualquer...



Um abraço saudoso...


Tua amiga terráquea


Lara Costa

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Querido John,

Queria pedir desculpas
pelo atraso das borboletas.
Elas ficaram durante muito tempo
dentro de mim, agitadas...
E quando você se foi,
eu tentei guardá-las,
como uma prova
de que tudo foi real...
Desculpe tentar roubá-las.
Agora sei que elas são suas.
Sim, era eu na porta há pouco.
E isso é apenas um meio de lhe dizer...
Que eu iria até você independente do momento
ou do porquê.
Andaria meio mundo,
Apenas para te ver.
Agora sorria querido, meu cheiro ainda está no ar
Acho que só meu cheiro
te faz me amar.
É comigo assim também.
Mas o teu cheiro
Não sai das minhas roupas, meu bem.
Pode parecer clichê, sabe...
Mas um dia vai entender,
Que tudo isso, nada mais é,
Do que a verdade.


Mary Jane

domingo, 1 de agosto de 2010

Carta de uma amiga cadeirante

Querida Patrícia,

Muitas coisas mudaram desde que sofri o acidente. E já começa pela maneira de me comunicar com você. Agora mesmo estou ditando as palavras a alguém que escreve para mim. No começo foi bem difícil. Você sabe como eu sou, as ideias afloram em minha mente e nem sempre as pessoas acompanham o meu raciocínio - às vezes nem eu mesma. Agora tenho que aprender a lidar com isso e acho que estou indo muito bem. A tetraplegia me trouxe mais paciência, concentração e habilidade para me expressar. Depois que perdi meus movimentos acabei achando atalhos em minha mente que me levam a um caminho mais rápido para me comunicar.

Resolvi te escrever porque queria reviver um pouco da velha amiga que eu era, da antiga Julia, sei lá. A última vez que nos encontramos você estava triste. Sei que preferiu não falar, mas eu a conheço. A nova e a antiga Julia sabem ver a alma de uma amiga verdadeira. E nenhuma deficiência subtrairia minha sensibilidade para desvendá-la. Que maluco isso, não? A amizade é um sentimento que acidente nenhum leva.

Esses dias me lembrei muito de você. A lembrança era muito forte. Eu estava passando naquele lugar que íamos quando adolescentes. Aquele bar mudou muito. Hoje, mesmo na cadeira de rodas, eu posso ir até lá. Depois de muitas reclamações, eles resolveram adaptar o local para pessoas com deficiência. Bacana, não acha? Sempre passo por lá de carro e lembro-me da época em que mentíamos para nossos pais só para irmos até lá. O local continua pitoresco. Agora, mais que nunca, eu consigo perceber as particularidades que cada lugar abriga. Fiquei mais sensível aos estilos diferentes de cada ambiente.

Não te contei ainda, preferi escrever. Você sabe o quanto as palavras me completam. Lembra-se do Marcos, que sempre foi um sonho para mim? Ele me encontrou há alguns meses no cinema. Ficou com uma cara de bobo quando me viu na cadeira de rodas. E para minha surpresa, aquele olhar de complacência, com o qual eu já me acostumei, foi substituído por um misterioso sorriso. Aquele rapaz lindo que nunca olhava para mim resolveu me dar a maior bola! Trocamos telefone e ele me convidou para sair. Fomos jantar e conversamos durante horas. Tudo aconteceu com uma certa urgência, uma necessidade irracional de amar que eu nunca havia sentido. Estamos namorando e nos descobrindo (eu me redescobrindo). Você sabe que ainda não havia tido um relacionamento. É tudo muito diferente para nós dois. O fato de não poder tocá-lo sozinha é um pouco estranho, mas ele não se importa. Diz que se interessa muito mais por mim hoje do que antes. Certo dia ele me contou que me tornei uma mulher muito mais cheia de vida depois da cadeira de rodas...Me surpreendo a cada dia que passamos juntos. Eu o toco por dentro e ele move tudo o que não posso mexer, girando meu mundo...

Acho que já falei demais sobre as minhas coisas. Mas isso não é novidade depois que sofri o acidente. Parece que tenho uma nova vida. Tudo o que sabia a respeito de mim mesma acabou perdendo espaço para a versão nova de uma mesma pessoa. Uma Julia de rodas. Mais viva que nunca, mais agitada que nunca. Renovada. A vida é definitivamente algo louco, beirando o surreal. Às vezes precisamos mudar tudo para se redescobrir. Eu mudei o corpo, os movimentos, a forma de comer, de sentir, de amar.. Enfim, de viver.

Mas, sabe de uma coisa? Mesmo depois de ter tido minha vida mudada de cabeça para baixo (quase literalmente se for pensar no acidente), sinto que nós continuamos as mesmas. Você discreta e às vezes calada. Eu imóvel nesta cadeira, mais inquieta como sempre. Mais falante como nunca.

Te tenho como um pouco do mesmo que restou de mim neste emaranhado de mudanças que minha vida passou. Um tanto que completa as lacunas deixadas pelos imprevistos do simples ato de vivermos. Esse pouco do que restou é o infinito que é a nossa amizade reprenta. E isso nada vai levar. Ficamos por aqui. A antiga e a nova Julia, aguardando ansiosas por sua resposta.