segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Ao pai de uma amiga

Olá, senhor. Sequer sei seu nome e você provavelmente não me conhece, mas sua filha é uma amiga minha. Mesmo que tenhamos nos conhecido há pouco tempo, nos damos bem, gosto muito dela. É uma pessoa adorável, sem malícia, honesta, pura e muito, muito bondosa mesmo! Apesar do pouco que convivemos, dá para ver que posso contar com ela para qualquer coisa que esteja ao seu alcance.

Gostamos muito de certas artes e até tive a pretensão de bolar umas idéias com ela, de deixar nossa criatividade fluir, de nos divertirmos com isso. Queria sair mais com ela e outros amigos nossos. Mas há um problema. Há uma corda que a segura, há uma corrente com uma enorme bola de ferro presa firmemente em seu tornozelo. Ela não tem a liberdade para fazer o que quer. E esse peso que atrasa a vida dela é você.

Acho que o senhor nunca percebeu o quanto sua filha tem consciência das próprias ações, o quanto ela é humilde e "certinha'" que sua preocupação não tem fundamento. Ela não vai sair cometendo mil e uma loucuras, fazendo "farra" com um monte de moleques Ela sabe escolher as amizades. E você não confia nela. Por quê? Justo o senhor que a criou a base de medo, com cintadas, gritos e ameaças pesadas. Quem tem medo é você! Você que não tem confiança na criação que deu para aquela garota, aquele anjo de pessoa. Um anjo, sim. E justo você, evangélico fanático com idéias obsoletas do século retrasado, não percebe o quanto a existência de sua filha é divina, pura. E o quanto ela realmente é importante. O quanto ela é um exemplo de pessoa. De ser humano, como não se encontra mais em lugar nenhum.

Espero sinceramente que um dia, quando estiver bem velho, perceba a infantilidade e a hipocrisia de suas ações, olhe para ela e pense "o que foi que eu te fiz?" Perceba o quanto ela poderia ter sido livre, enquanto você exercia sua ditadura medíocre, e que, ali, não tem mais volta, porque ela desistiu de te agüentar. Ela desistiu da jaula que era a vida dela, como sua filha caçula parece fazer já hoje. E espero que sinta o mais cruel arrependimento e o mais frio remorso ao entender que, de tanto querer controlar minuciosa e desesperadamente o que fazia, acompanhar cada um de seus passos e saber exatamente onde eles cessarão, ela, simplesmente, saiu de seu controle. E você do seu próprio.


Atenciosa e indignadamente,
Aline Rodrigues

3 comentários:

Nath disse...

"ela, simplesmente, saiu de seu controle."

Aline, admiro sua carta muito, conheço um pouco dessa história...

Seria uma ótima idéia deixar o computador ligado com essa página aberta, pro caso do pai dela ver (se ele usar o computador, claro).
Não são poucos os casos como esse, eu vivo um pouco disso. Às vezes o pai dela só quer protegê-la, mas não sabe que desse jeito está errado (a meu ver, claro), que isso só fará mal pra ela no futuro.
Mas eu espero, sinceramente, que ele mude esse pensamento, porque isso com certeza faz muito mal à ela, em todos os sentidos.

Jefferson Sato disse...

Eu também espero que mude. Fanatismo religioso é uma coisa ridícula que só faz mal para as pessoas.

Aliás, qualquer fanatismo faz mal.

Espero que tudo dê certo com sua amiga.

Tatiane disse...

Já diria a minha mãe: "por mais que eu tente te proteger, por mais que eu diga que não é certo, que é perigoso ou que não faz bem... você nunca vai saber se as coisas realmente são assim, se não passar por elas."

O pai dessa garota deveria deixá-la andar com as próprias pernas, deixá-la descobrir o que é bom e o que não é. Deveria ter mais confiança nela, e na educação que deu a ela.

Boa sorte à menina do texto. :]